Uma carta ao amor

No final de 2008 eu estava no olho do furacão de uma conturbada situação de relacionamento familiar. No início daquele ano, eu cheguei a perder 20Kg em três meses por conta do que estava passando e, como reação, depois de um tempo de abatimento e dores interiores, me sentia no dever de dar uma chance a mim mesmo. Eu precisava fazer alguma coisa. Era a escolha entre me entregar e morrer ou mudar e viver. Não vou entrar em detalhes, mas o que resolvi fazer no final daquele ano, dentre tantas outras coisas que se processaram no meu ser, foi escrever uma carta para o futuro. Eu não sabia que aquela carta-desabafo-esperança se tornaria numa espécie de profecia de pacificação e encontro.

Todo mundo espera encontrar um grande amor. Seja ele um mesmo amor transformado/reciclado ou um amor novo, num outro lugar e num outro tempo. Algumas pessoas têm este sentimento como uma promessa a si mesmos, mas outras o tem como frustração de desencontros e medos. Amar e se entregar por completo é perigoso, mas eu sabia que era capaz de assumir o risco novamente e viver um grande amor com todas as sinuosidades que ele possa carregar. Sentia-me mais maduro, mais forte e queria muito viver um momento na história diferente do que havia enfrentado até ali.

Eu não sabia, naquele momento, como ou com quem este amor e história se configurariam, só sabia como certeza interior que ele aconteceria mais cedo ou mais tarde. Uma vez comecei até a procurá-lo, mas meu coração foi fortemente balançado por uma voz interior que dizia: “Aquiete-se! Espere acontecer sem procurar!”. Não sem deixar de cuidar de mim mesmo, descansei, então. Foi mais de um ano de espera longa e solitária, mas estranhamente eu não me sentia solitário. Havia a certeza de que ela chegaria e saber isso bastava.

Na carta, eu não dei nome ao amor que esperava para não correr o risco de focar no tempo, espaço ou pessoa errados. Chamei-a apenas de “Promessa” e prometi que somente ela seria dona daquelas confissões de esperança e o pedido que fiz. Vou cumprir o que eu escrevi à “Promessa”, não vou tratar do conteúdo daquela carta publicamente. Pertence somente a ela o que escrevi lá. Por favor, entendam o pacto que propus. O que derramei naquelas linhas começou a se cumprir pouco mais de um ano depois através do sorriso sonhado que só ela possui.

Elaine surgiu na minha vida como um verdadeiro presente de Deus. Ela chegou exatamente no dia seguinte ao meu aniversário de 34 anos. Não sei porque a vida não nos permitiu o encontro antes. Nunca havíamos sido apresentados, mas quando ela chegou era como se nos conhecêssemos a vida toda. Era como um farol iluminando minhas noites escuras e revelando o caminho mais seguro a seguir. A “Promessa” se fez carne, se fez sonho realizado e poesia. Tudo se encaixou de forma muito natural, como tem que ser nas coisas do amor. O encontro virou uma grande alegria, a alegria virou nossa amizade, a amizade deu lugar à paz, e a paz cresceu até virar um grande amor. Tudo muito intenso, muito profundo, rapidamente lento e verdadeiro. Trindade de desejo, amizade e fidelidade.

Hoje completamos dois anos de casados e eu resolvi fazer esta abordagem e homenagem pública ao amor, à cura e ao crescimento que se solidificam cada dia mais e mais na nossa vida em comum. Enfrentamos desafios, sim. Muitos! Sabemos que nenhum de nós dois é perfeito e não temos a ingenuidade de tentar ser. Temos consciência das dificuldades e os assuntos sensíveis que afetam tanto a um como ao outro, mas o sentimento de paz e bem, a vontade de pular de cabeça todos os dias para viver o que for preciso vem de forma muito natural e verdadeira, sempre. O amor venceu e vence todos os dias em nós dois.

Ouço muita gente dizer que o verdadeiro amor não existe. Vejo pessoas frustradas, cansadas de se darem, de terem tentado tantas vezes e se magoarem por causa de escolhas erradas do passado ou do presente. Os erros dos encontros apressados são perigosamente possíveis, é verdade! Mas aprendi também que o amor intenso e entregue é uma possibilidade real que a gente constrói com paciência, verdade e cumplicidade.

É preciso também ter uma certa dose de sabedoria e sensibilidade para perceber os sinais que a vida nos dá. Aprendi a dar valor aos pequenos avisos que recebemos. Todos nós os recebemos, o problema é que nem sempre damos a eles a devida atenção e isso pode ser prejudicial tanto para fazer esperar além do tempo, como para a precipitação de tomar uma decisão antes do momento oportuno.

Eu agradeço a Deus a chance de fazer um caminho diferente de tantos outros que percorri. Poderia ter morrido em alguns caminhos, mas sobrevivi a todos eles. Não posso dizer que me arrependo totalmente dos caminhos por onde passei, eu simplesmente os respeito. Aprendi com eles, é parte da minha história, foi onde eu cresci, amadureci e me tornei o que sou hoje. Tenho muitos outros caminhos a percorrer aqui e mais a frente, mas tento não repetir os mesmos erros de antes.

Hoje eu tenho uma parceira, amiga, irmã, confidente, filha, conselheira, modelo, intercessora, namorada, mãe, esposa, revisora, amante, sábia e guerreira reunidas numa única pessoa. Que felicidade é conviver com tantas mulheres numa só. Mulher Iluminada, você é um presente maravilhoso! Repouso do meu coração, descanso da minha alma, musa inspiradora e alimentadora do poeta que habita em mim. Lugar de chegada para onde corro todas as vezes que chego de algum outro lugar. Meu desejo e oração é para continuar este caminho de mãos dadas com você até depois do fim.

 

O Deus que nos uniu te abençoe rica, poderosa e sobrenaturalmente!

Bacharel em Teologia pelo UniBennett (Rio), Pablo Massolar é o editor e autor do Ovelha Magra. MBA em Gestão de Marketing, autor de livros e palestrante. Casado com Elaine, a menina mais linda do mundo, e o orgulhoso pai de Ana Clara e Sarah.