O coração paterno de Deus

E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo; Aí serão chamados filhos do Deus vivo. (Romanos 9.26)

Eu percebo como algumas pessoas, quem sabe, talvez por terem tido más experiências com seus pais ou com o rigor excessivo e doentio de quem às criou, possuem uma enorme dificuldade de entender o amor e o zelo paternal de Deus. Acabam interpretando de maneira equivocada a revelação bíblica que apresenta Deus como Pai e transferem a imagem de um pai severo, distante e ameaçador para Deus quando, na verdade, Sua intenção é exatamente oposta a toda esta percepção.

Para se ter uma idéia deste pavor e trauma em assumir a paternidade de Deus sobre nós, há de se levar em conta que o que realmente levou Jesus à crucificação, ou seja, o argumento que os sacerdotes e fariseus usaram para pronunciar a sentença de morte contra ele, foi o fato dele se proclamar Filho de Deus, de chamar a Deus de Pai e até mesmo transmitir aos seus discípulos esta doutrina e nova forma de orar a Deus, o Pai. Compará-lo de forma poética, à mãe que dificilmente abandonará ou se esquecerá de seu filho que ainda amamenta é até aceitável, mas chamá-lo diretamente de Pai é arriscar-se demais. Este tipo de envolvimento e aproximação com o Criador soava aos ouvidos dos religiosos quase que como uma ofensa ao Deus Todo-Poderoso, o Senhor das Batalhas, o Deus de Abrão, Isaque e Jacó, que abriu o Mar Vermelho e falou a Moisés com voz de trovão.

Apesar de ter perdido meu pai muito cedo, eu nunca tive problemas em compreender a paternidade de Deus, aprendi desde pequeno a amar a presença do Senhor e depender dela no meu dia-a-dia, sentir Sua mão me direcionando, sustentando e Sua voz me encorajando. Mas depois que minha filha nasceu passei a entender com muito mais propriedade e profundidade do que se trata esta revelação. Vou compartilhar aqui duas experiências que passei com minha filha e que, eu espero, lhe traga revelação sobre que tipo de Pai, Deus deseja ser para nós.

Sarah ainda tinha dias de nascida, a mãe dela havia tido problemas com leite durante a amamentação e então foi preciso amamentá-la com um leite especial que eu comprava e preparava sempre que ela acordava com fome. Minha filha, como qualquer recém nascido, era um relógio, acordava ininterruptamente de duas em duas horas, até mesmo de madrugada. Eu cheguei a ficar tão condicionado àquela rotina, que o meu próprio relógio biológico se ajustou ao dela, às vezes eu acordava durante a noite e sabia que ela iria acordar a qualquer momento com fome, não dava outra, dali há dois ou três minutos começava aquele choro baixinho. Houve algumas vezes que eu já sabia que ela acordaria com fome, então eu me antecipava, levantava e já começava a preparar o leite, quando ela começava a chorar eu prontamente a pegava no colo e lhe dava o leite que tinha preparado minutos antes.

Numa dessas madrugadas tive uma poderosa revelação e experiência com Deus que até hoje fazem meus olhos se encherem de água e meu coração arder. Eu tinha levantado para fazer o leite da Sarah e enquanto eu preparava a mamadeira dela ouvi claramente a voz de Deus dizendo, quase que como uma brisa suave:

— Vê este cuidado que você tem com sua filha? Você a ama e sabe que ela depende deste leite para sobreviver, sabe até os horários que ela vai pedir por ele. Assim é o meu cuidado, amor e zelo por você. Assim cuido de todos os meus filhos. Eu os sustento mesmo antes que me peçam qualquer coisa.

Deus usou uma situação absolutamente natural para me trazer uma revelação profundamente sobrenatural. Naquela hora, sem eu pedir, era Ele me alimentando com sua palavra. Chorei diante de Deus e senti sua segurança e paz poderosa invadindo meu coração naquela madrugada, glorifiquei ao Senhor por aquele momento especial e até hoje, quando estou em apuros, lembro da providência e cuidado de Deus revelados naquela noite.

Bem, eu falei deste cuidado de Deus para conosco, mas agora quero falar da nossa retribuição a este amor. A outra experiência que quero relatar para completar esta mensagem foi um dia quando saí com minha filha para levá-la ao parquinho. Agora ela está com dois anos e meio e está naquela fase que as crianças aprendem a falar de tudo. Era uma manhã muito bonita de sol e quando chegamos lá a Sarah não sabia em qual brinquedo ir primeiro, subia e descia no escorregador, ia para o balanço, voltava para o escorregador, mexia na areia, brincava com outras crianças, voltava para o balanço num ciclo interminável de alegria e felicidade. Foi de repente, quando ela subiu num brinquedo, toda sorridente, olhou para mim com os olhos brilhando levantou os bracinhos e gritou radiante lá de cima:

— PAPAI, EU TE AMO!

Meu coração foi na boca e voltou, quase caí em prantos de felicidade e orgulho naquela hora, os outros pais olharam para mim admirados e surpresos com aquele momento e eu não tive outra resposta a dar, ainda com a voz embargada, olhando pra ela e dizendo que eu também a amava muito.

Nenhuma riqueza do mundo se compara à alegria que senti naquela hora, tamanha foi a espontaneidade dela ao dizer aquelas simples palavras. Nunca mais me esquecerei daquele momento e eu não poderia ter recebido melhor presente naquele dia. Eu creio que o Deus Pai espera de nós a mesma atitude que aprendi com a pequena Sarah. O louvor sincero é o que agrada e comove o coração de Deus. Quando eu não tiver forças ou palavras para orar vou dizer apenas que O amo e Ele saberá do que preciso.

Ainda hoje declare seu amor a Deus Pai, não porque você está lendo um texto que está pedindo para fazê-lo, mas faça isto porque realmente O ama, porque sabe que antes de você O amar, Ele nos amou primeiro, da forma como somos, com todas as nossas imperfeições, até mesmo com todo o pecado que carregamos, Ele nos ama apesar de todas as coisas que nos fazem sentir que não somos merecedores deste imenso amor.

 

O Pai Eterno te abençoe rica, poderosa e sobrenaturalmente!

Bacharel em Teologia pelo UniBennett (Rio), Pablo Massolar é o editor e autor do Ovelha Magra. MBA em Gestão de Marketing, autor de livros e palestrante. Casado com Elaine, a menina mais linda do mundo, e o orgulhoso pai de Ana Clara e Sarah.